“Há palavras alegres e há palavras tristes. E essa tristeza ou essa alegria umas vezes está nelas, outras no modo de as dizer.”

Sebastião da Gama, Diário




Apesar de, a partir de 24 de outubro de 2011, ter sido destacada para outra escola, não quero quebrar os laços com os meus alunos de Condeixa-a-Nova. Por isso, reabro a publicação dos textos que me vão enviando e que eu corrijo com toda a dedicação, para lhos voltar a reenviar. Continuem a vossa oficina de escrita. Fico à espera dos vossos textos.

Saudades mafaldinas…

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

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Inicio, hoje, a publicação de um texto que me foi enviado por um(a) discente de Condeixa-a-Nova. Como quero a participação dos leitores, aguardo a tua visita a este blogue, com regularidade, e que me proponhas um título.  Eu e o(a) autor (a) esperamos por ti!

Este texto trata um homem que na sua vida teve uma tragédia, que se veio a agravar.

I - Tragédia
Tudo se passou hoje. Ainda não passava das sete horas da tarde, era uma sexta-feira de primavera que mais parecia de verão.
Mas como tudo tem um início, neste dia tudo tinha sido tão perfeito, todos os momentos, todos os sorrisos, mal podia pensar que também iria ter um lado obscuro.
Ida e volta foram perfeitas, ao lado de quem amo. Foram momentos únicos que me fazem sonhar todos os dias para os voltar a ter ou conseguir que haja melhores. O cinema foi perfeito, tudo me corria excelentemente bem, sem que houvesse um contratempo para me fazer voltar a chorar por causa do que tinha acontecido no meu passado.
Voltaram a relembrar-me o quanto era odiado, rejeitado e também, muitas vezes, espancado. Só que, ao ver aquele olhar fixado nos meus olhos, isso fez-me vibrar. O apoio e o conforto que a minha voz dava não chegavam para reconfortar aquela pessoa. Era tão obscuro o que via naquele coração; via tristeza e mágoa com as palavras que se podiam vir a propagar da boca da sua mãe. O medo escorria-lhe pela cara, mas a força de não deixar cair as lágrimas à minha frente foi tanta que, quando se encontrou com a mãe, tudo se tornou mais obscuro do que era. Ela própria tinha ouvido que se eu era o futuro dela que nunca a iria ajudar no que quer que fosse.
Mas, antes de ter descoberto esta fase, estava a pedalar para casa. Morava a uns 15 ou 20 km daquela cidade que sempre me fascinou porque foi lá que descobri os meus verdadeiros amigos e o meu verdadeiro amor. Contudo nada pode ser perfeito porque existem sempre algumas coisas que fazem com que o destino nos roube tudo o que temos. Enfim, pedalava descansadamente para casa quando recebo aquela notícia. O mundo parou logo todo à minha volta: eu não sabia por onde ia, não sabia quem lá vinha, era só eu a música e a tristeza mais ninguém. Começando a chorar por ter sentido o mesmo que a minha amada, simplesmente pedalava, sentindo a brisa a bater-me na cara, o vento que se sentia fresco no sítio por onde escorriam as lágrimas, os carros que apitavam por ir no meio da estrada. Foi tudo muito singular; sentia-me outra vez entregue ao passado onde o destino me roubava cada resto de esperança que tinha para mudar, mas, felizmente, consegui superar mudanças em mim, graças à minha amada, que sempre me apoiou e ajudou.
Sentia o coração a bater-me forte e os nervos a saltitarem; não sabia o que era melhor para mim, morrer ou continuar a lutar. Era mais fácil morrer, mas a luta por uma vida melhor tem de se continuar se não todas as barreiras e erros da nossa vida tinham sido em vão. Eu não queria que fosse em vão porque tenho de mostrar a certas pessoas o que sou na verdade e não provar-lhes que ao chamarem-me fraco tinham razão. Cheguei a casa; não tinha força para nada, nem para falar, não queria que ninguém me incomodasse nem me perguntasse o que tinha porque talvez dissesse ou tratasse mal. Tinha medo de mim próprio, mas não deixava de pensar naquela frase “se queres que ele seja o teu futuro não contes com a minha ajuda”. Estava a magoar-me, mal sentia as costas doridas, era mais o coração por ter levado uma “facada” e ter ficado mais frágil ao querer desistir de tudo e não fazer caso de ninguém. Algo me diria que isso ia acontecer. A minha mãe viu o meu estado e não parou até saber o que se passava comigo. “Agarrei” em toda a minha força e contei-lhe. Ela apoiou a minha decisão embora discordasse um pouco por eu ser muito novo e não conseguir suportar o peso de sustentar uma família (talvez saiba o que é isso, sabendo o que passei quando fui trabalhar). Eu sabia bem que, algum dia, me ia arrepender de todos os meus erros, de ter fumado, de ter feito muitas asneiras e dado muitas cabeçadas em muros, que só me levavam à ruína. Consegui que isso acontecesse! Fui muito burro ao querer construir uma casa, por o telhado… é que essa suposta casa é o meu passado!
Depois, quando acabou de me avisar para acordar para a vida, foi acabar de fazer o jantar, chamando-me passados cinco minutos. Olhava para o prato, não me apetecia comer; a mágoa era tão grande no meu coração que me tirara o apetite, nem sabia porque é que estava a mesa com a pessoa que agora comecei a odiar, o meu pai. Queria que ele desaparecesse da minha vista porque foi ele que me provocou a má imagem, falando de mim a certas pessoas que agora falam de mim como se fosse um bicho de sete cabeças, embora nem saibam que mudei. Mas, enfim, estava a criar problemas a uma pessoa que nem tinha culpa do que estava a acontecer, tinha sido mais uma das coisas que o meu passado tinha feito, ou seja, o que lhe estava a acontecer era por culpa minha porque fui eu que dei azo a que ele criasse uma imagem negativa de mim. Podia ter sido mais atinado, assim não tinha chumbado um ano. Por causa disso, fiquei com a fama que tinha sido expulso da escola onde andava e que não queria saber dos estudos. Agora, acho isso importante de mais até, acho que é uma coisa que nunca se deve abandonar, que nunca se deve deixar para trás, que nunca se pode perder o rumo. Por causa desses descuidos, estava a seguir o caminho para a escuridão e para a maldade. Ao pensar nisto, não me dava vontade nenhuma de comer, olhava para o prato e a comida parecia ter um gosto fraco - nem lhe toquei.
O meu pai viu-me assim tão em baixo; porém, nem foi capaz de perguntar o que se passava comigo, se queria ajuda ou queria apoio para alguma coisa. Em vez disso, começou a ralhar e a dizer coisas que eu nem sempre gosto de ouvir. Eu, não tendo mais nada, fechei-me no quarto e apenas escrevia no pequeno caderno de capa preta que supostamente era o meu diário.
Escrita no diário:
“Hoje passei o melhor dia da minha vida, embora todos os outros momentos tivessem sido bons e especiais. Este, sem dúvida, foi o melhor. Mas não consigo deixar de pensar na facada que levei nas costas e no coração; não larga sangue, mas dói imenso; não deixa marcas, mas deixa memórias de uma perda. Estou outra vez a começar-me a sentir sozinho neste mundo, a ser só eu e a minha namorada contra o futuro, não tendo maneira de sair, fazendo com que ela sofra, indiretamente, à minha custa, por me acharem má pessoa. Sei que ela merecia melhor, mas eu tento tudo por tudo para lhe dar o melhor que o meu coração pode oferecer. Queria um dia perceber porque é que estas pessoas ainda acreditam que sou como era no passado. Graças à minha namorada, consegui ser melhor, mudei, mas acho que isso de nada adianta, vou continuar o mesmo farrapo que era dantes. Por favor, que é que tenho de fazer para ser melhor?! Alguém que me ajude…
Descalço na estrada nem me importava com os estilhaços de vidro que estavam no chão, provocados por eu ter partido uma garrafa. Sentia alguns vidros a espetarem-se num dos meus pés, mas apenas sentia a minha dor, apenas sentia aquela frase a bater-me no coração. Até que alguém me disse que já tinha lutado tanto, até não ter mais forças, e se eu já tinha tido tantos momentos fantásticos com a minha amada, porque é que iria desistir. A resposta veio-me logo à cabeça, querendo dizer que não a queria magoar, que não a queria em problemas por minha culpa e não queria que ela ouvisse certas coisas que a mãe lhe diz agora por minha causa. Todavia apenas disse para não se importar, que era uma fase. Essa pessoa riu-se e disse para eu ter calma e não me deixar cair. Se eu a abandonasse, só iria fazer com que ela se destruísse aos poucos, como tinha dito por mensagem um dia. Não quero que ela se destrua aos poucos com isso! Aquela voz acalmou-me. Novamente, sentia as dores nos pés, por causa dos cortes, mas não estava a dar valor a isso. Queria voltar a estar com ela, aconchegado ao seu lado - era a minha vida agarrada a uma relação que algum dia poderia dar mal, graças à mãe. Não, não podia desistir dela, mas sim continuar a lutar e é o que vou continuar a fazer.

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